segunda-feira, 18 de novembro de 2013

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Estejamos atentos

Respingos de um livro

O ultimo livro de Alain Badiou, "O Reveil De L'Histoire", Põe no seu preâmbulo questões que não
podem deixar-nos indiferentes. Elas são de actualidade e se ele se dirige mais ao seu país, a França, não deixa de incluir a Europa e por isso Portugal. Por esta razão decidi publicar alguns extratos com a esperança que eles sejam lidos por alguns amigos e não só.
Alain Badiou se interroga: O que se passa? O´que é que nos está acontecendo? Do que estamos a ser testemunhas meio fascinados, meio devastados? Continuação de um mundo fatigado? Crise benéfica do mesmo mundo, na procura do seu vitorioso alargamento? Fim desse mundo? Começo de um outro mundo? O que é que nos acontece, no começo de um novo século que parece não ter um nome claro dentro de alguma língua tolerada?
Consultamos nossos mestres: Banqueiros discretos , tenores mediáticos, gente incerta de grandes comissões, porta-vozes da "comunidade internacional" presidentes ricalhaços, novos filósofos, professores de fábricas e de domínios, homens da bolsa e dos concelhos de administração, políticos faladores da oposição, notáveis da cidade e da província, economistas do crescimento, sociólogos da cidadania, experto de crises em toda a espécie, profetas da "guerra das civilizações", grandes chefes da polícia, da justiça e da "penitência",avaliadores de benefícios, calculadores dos rendimentos, editariolistas de jornais, diretores de recursos humanos, gente que não são por eles mesmo gente de pouco, gente que não devemos ter por gente de nada. Que dizem eles, todos estes dirigentes, todos estes fazedores de opinião, todos estes responsáveis, todos estes "apanha-migalhas"?
Todos eles dizem que o mundo muda a uma velocidade vertiginosa, e que por isso, para evitar a ruína ou a morte (para eles, é a mesma coisa), temos de nos adaptar a essa mudança, ou não ser mais, dentro de tal mundo, que a sombra de nós mesmo. Que nos devemos adaptar energicamente, aceitando sem hesitação os sofrimentos inevitáveis,dentro da "modernização Incessante). É preciso, dizem eles, visto o terrível mundo concurrencial que todos os dias nos desafia, subir os escarpados obstáculos Dos montes da produção, da redução dos orçamentos, da inovação tecnológica, da boa saúde dos nossos bancos e harmonizar o trabalho. Toda a concorrência é desportiva nos seus princípios: nós devemos, para tudo resumir, participar à ultima escapada ao lado dos campeões do momento (um ás alemão, um outsider tailandês, um veterano britânico, um novo chinês, sem contar com o sempre vigoroso Yankee não mais ficar-mos em fim do pelotão. para isso, toda a gente deve pedalar: modernizar,reformar, mudar!
Rompamos com a rotina! Abaixo os arcaísmos! Temos que mudar.
Mas Mudar o quê? se a mudança deve ser permanente, a sua direção, parece ser constante.Convém de tomar de urgência toas as medidas que a conjuntura nos impõe para que os ricos continuem a se enriquecer continuando a pagar menos impostos; que os efectivos das empresas sejam diminuídos à causa de licenciamentos e de planos sociais; que tudo o que é público seja privatizado contribuindo assim,não ao bem público mas à riqueza dos ricos e dos meios ricos que, formando a barreira de segurança, são um apoio sempre prontos a servir a oligarquia financeira.
É esta a verdadeira linha da mudança, a actualidade da reforma, a dimensão concreta da modernização. É isto para os mestres a lei do mundo.


Quelha Funda

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Política e Religião

O Vaticano e a acumulação da riqueza (2)


«A Doutrina Social da Igreja sustentou sempre que a distribuição equitativa dos bens é prioritária. O lucro é legítimo na justa medida em que for necessário ao desenvolvimento económico. O Capitalismo não é o único modelo válido de organização económica» (João Paulo II, «Centesimus Annus»).

«Sou culpado por ter silenciado covardemente no tempo em que deveria ter falado. Sou culpado de hipocrisia e de infidelidade perante a força. Falhei na compaixão tendo negado os mais humildes dos nossos irmãos ...» (Dietrich Bonhoeffer, pastor luterano, depois enforcado com cordas de piano pelos nazis, 1945).

«Toda a História, desde a dissolução da antiquíssima posse comum do solo, tem sido uma história de lutas de classes; lutas entre classes exploradas e exploradoras, dominadas e dominantes, em diversos estádios de desenvolvimento social. Esta luta, porém, atingiu agora um nível em que a classe explorada e oprimida (o proletariado) já não se pode libertar da classe exploradora e opressora (a burguesia) sem simultaneamente libertar para sempre toda a sociedade da exploração, da opressão e das próprias lutas de classes» (Friederich Engels, «Manifesto», 1833).

A «camisa de onze varas» em que o capitalismo se meteu é a mesma que imobiliza o Vaticano. O neocapitalismo gerou dinheiro mas destruiu o produto e desmantelou o aparelho social. A Igreja enriqueceu desmedidamente mas apagou a sua identidade, aquela que motivava o seu clero e unia o seu rebanho. Trocou valores como a fé ou o mito por metal bem sonante. Hoje, olha-se para ela e bem pode dizer-se: «o rei vai nu».
Chovem as provas do seu apetite voraz.
A rede de bancos e off-shores que o Vaticano domina, os escândalos que o enlameiam, as ligações que a solidariedade oculta, as contas públicas que se nega a prestar, o seu envolvimento em negócios escuros, etc., etc. O pouco que se sabe deixa calcular o muito que continua oculto.
A matéria daria para um tratado. Só de passagem, recordemos apenas casos falados recentemente: o novo escândalo do IOR – Instituto das Obras Religiosas com monumentais lavagens de dinheiro que a polícia italiana continua a investigar; os crimes de abuso sexual de menores detectados um pouco por toda a parte e que envolvem exclusivamente padres e seminaristas católicos; a descoberta que se fez de que a segunda maior editora alemã de livros pornográficos – a PORNO – afinal, pertence ao Vaticano; só em 2010, o negócio rendeu mais de 1,6 biliões de euros! As ligações de IPSS com os mercados. Etc., etc.
Nada disto causa espanto no mundo dos monopólios capitalistas. Todos eles também guardam na gaveta crimes semelhantes ou mais tenebrosos. Porém, em relação à Igreja, a santidade representava o seu capital social. E este está definitivamente perdido.
Portanto, no plano ideológico a Igreja vai-se apagando. O mesmo não acontece nas áreas política e financeira onde o Vaticano se encontra solidamente instalado e em ascensão. Combina expedientes e formas de pressão à sua vontade, sobretudo nos estados onde mantém concordatas. Mas de outros modos também.
Menciona-se, a propósito destas técnicas de expansão, um dos trunfos ocultos do papado, citado como o Crown ou «Coroa do Vaticano». Trata-se de uma estrutura subterrânea constituída pelos representantes das doze mais ricas famílias do mundo – os Rotschild, Astor, Bundy, Collins, Du Pont, Freeman, Kennedy, Li, Onassis, Rockefeller, Russel e Van Duyn. Junte-se a este monumental bloco o secreto «Óbolo de S.Pedro», saco sem fundo que só o papa conhece e gere, e teremos uma vaga ideia do poder do Vaticano nas políticas mundiais e na distribuição desigual da riqueza. Outras 300 famílias multimilionárias mantêm-se na sombra do papa, sempre disponíveis para qualquer intervenção. É o corpo dos «iluminados» (os «illuminati») força à qual em breve nos voltaremos a referir.
Não espanta, por isso, que o capitalismo actual se cruze constantemente com os interesses da Igreja. Todo o mundo bolsista e milionário; político e argentário; eclesiástico e especulador, está mobilizado para a destruição do Estado social e das estruturas democráticas e para a recolha de todo o dinheiro deixado sem dono pela acção governativa. Destruir as conquistas históricas dos cidadãos e amoldar os homens aos interesses do grande capital são os seus verdadeiros objectivos.
Só os conseguirão alcançar se virarmos a cara à luta.

Jorge Messias ( Jornal Avante )

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Política e Religião

Um manual do crime impune

«A Igreja não é uma grande empresa porque a Igreja tem uma desmultiplicação de pessoas jurídicas. Cada uma dessas entidades é uma empresa pequena. O elo entre todas elas é a Igreja como comunhão. Houve outros países que cometeram o erro de concentrar tudo na personalidade jurídica da diocese …» (Cardeal-patriarca, D. José Policarpo em entrevista ao Diário de Notícias, Dezembro de 2011).

«As Misericórdias, as IPSS, os Centros Sociais, representam uma panóplia muito pesada para nós. Esse tecido empresarial está a actuar já neste momento. São instituições que subsistem porque têm tido um apoio estruturado e negociado com o Ministério da Segurança Social e … bem! O Estado tem consciência de que através das nossas instituições presta um serviço público mais barato com grande qualidade humana e espiritual e, hoje, até técnica. A ajuda do Estado, neste momento, não oferece, quanto a mim, razão de queixa. A única coisa que está a acontecer é que não abre a novas frentes!» (idem, ibidem).

Passagens da Constituição da República Portuguesa: «É tarefa fundamental do Estado… promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses... mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e sociais – Art. 9.º; as igrejas e outras comunidades religiosas estão separadas do Estado - Art. 41.º; incumbe prioritariamente ao Estado...orientar a sua acção para a socialização dos custos dos cuidados médicos e medicamentosos – Art. 64º »

Numa recente entrevista do cardeal-patriarca de Lisboa, o mais elevado membro da hierarquia católica reconheceu implicitamente um facto evidente mas até aqui deliberadamente ignorado pelo clero: a Igreja amolda-se aos gostos dos mercados. Como empresa capitalista, entra nos negócios correntes para garantir a ampliação dos seus lucros e uma maior penetração na sociedade; sob diferentes capas instala em todos os sectores sociais redes de malha fina cada vez mais extensas e diversificadas que obedecem cegamente às orientações centrais do Vaticano.
Pelo menos, bispos e cardeais esperam que assim seja. Para se justificarem, defendem a tese de que apoiar os ricos é beneficiar os pobres. Mesmo sabendo que é caricatural a noção de caridade que a Igreja propõe como substituto das funções do Estado social.
Portugal tem 89 mil quilómetro de superfície, 11 milhões de habitantes e 20 dioceses que albergam 4364 paróquias. As IPSS são mais de 3000. Lares e pontos de abrigo, para lá dos 2000. As Misericórdias gerem cerca 400 hospitais e centros de Saúde. Mas não é só em Portugal que isto acontece. Se quisessem falar, os multimilionários de Bilderberg muito teriam para contar. E se o discurso papal fosse «sim, sim; não, não», então o povo veria claro nas trevas das concordatas, das sociedades secretas e dos off-shores...
No plano social, com um governo português como este, a Igreja parece imparável mas não é tanto assim. Há IPSS que funcionam só no papel e também muita corrupção no meio de tudo isto. As instituições «não lucrativas» associam-se a «lobies» lucrativos e a breve trecho já ninguém sabe onde «a terra acaba e o mar começa». As tais «empresas pequenas» de que se gaba D. José infiltram-se no SNS com as suas parapúblicas destinadas a criar e a sonegar novos lucros mas os resultados são insuficientes. A nível administrativo – onde as instituições privadas preferencialmente se instalam – na Saúde aumentam os défices, os dinheiros mal parados e a luta pelo poder. Com «cortes sobre cortes» e com a crescente exploração do trabalho, escasseia o pessoal médico e paramédico e degrada-se a qualidade anteriormente reconhecia ao sector. Há hospitais que encerram enquanto outros aguardam a sua vez ou são «oferecidos» à Igreja por um governo para o qual a Constituição não existe. As «taxas» agora estabelecidas para a prestação de serviços do SNS rivalizam com os das clínicas privadas quando, constitucionalmente, seria dever do Estado pagá-los com o dinheiro das contribuições normais dos cidadãos.
Cá fora, nos hospitais estatais que restam, vão acumular-se os jovens, os velhos e os pobres. Como gado. Como nos tempos de Salazar. Como quando a vida dos indefesos dependia dos caprichos da Virgem de Fátima.
A situação social dos portugueses é já uma ruína. Miséria crescente. Até que os pobres deixem de consentir nestes jogos de salão e façam escutar a sua voz.
Mesmo que outros a não queiram ouvir.

Jorge Messias (Jornal Avante)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Uma carta

Carta ao Primeiro Ministro Portugues

Aconselho vivamente a leitura desta carta, que está a fazer furor na internet...
Devem ler tudo, mas não percam, particularmente, os parágrafos destacados no final:

Exmo Senhor Primeiro Ministro

Começo por me apresentar, uma vez que estou certa que nunca ouviu falar de mim.
Chamo-me Myriam. Myriam Zaluar é o meu nome “de guerra”. Basilio é o apelido pelo
qual me conhecem os meus amigos mais antigos e também os que, não sendo
amigos, se lembram de mim em anos mais recuados.
Nasci em França, porque o meu pai teve de deixar o seu país aos 20 e poucos anos.
Fê-lo porque se recusou a combater numa guerra contra a qual se erguia. Fê-lo
porque se recusou a continuar num país onde não havia liberdade de dizer, de fazer,
de pensar, de crescer. Estou feliz por o meu pai ter emigrado, porque se não o
tivesse feito, eu não estaria aqui. Nasci em França, porque a minha mãe teve de
deixar o seu país aos 19 anos. Fê-lo porque não tinha hipóteses de estudar e
desenvolver o seu potencial no país onde nasceu. Foi para França estudar e trabalhar
e estou feliz por tê-lo feito, pois se assim não fosse eu não estaria aqui. Estou feliz
por os meus pais terem emigrado, caso contrário nunca se teriam conhecido e eu não
estaria aqui. Não tenho porém a ingenuidade de pensar que foi fácil para eles sair do
país onde nasceram. Durante anos o meu pai não pôde entrar no seu país, pois se o
fizesse seria preso. A minha mãe não pôde despedir-se de pessoas que amava
porque viveu sempre longe delas. Mais tarde, o 25 de Abril abriu as portas ao
regresso do meu pai e viemos todos para o país que era o dele e que passou a ser o
nosso. Viemos para viver, sonhar e crescer.
Cresci. Na escola, distingui-me dos demais. Fui rebelde e nem sempre uma menina
exemplar mas entrei na faculdade com 17 anos e com a melhor média daquele ano:
17,6. Naquela altura, só havia três cursos em Portugal onde era mais dificil entrar do
que no meu. Não quero com isto dizer que era uma super-estudante, longe disso.
Baldei-me a algumas aulas, deixei cadeiras para trás, saí, curti, namorei, vivi
intensamente, mas mesmo assim licenciei-me com 23 anos. Durante a licenciatura
dei explicações, fiz traduções, escrevi textos para rádio, coleccionei estágios,
desperdicei algumas oportunidades, aproveitei outras, aprendi muito, esqueci-me de
muito do que tinha aprendido.
Cresci. Conquistei o meu primeiro emprego sozinha. Trabalhei. Ganhei a vida.
Despedi-me. Conquistei outro emprego, mais uma vez sem ajudas. Trabalhei mais.
Saí de casa dos meus pais. Paguei o meu primeiro carro, a minha primeira viagem, a
minha primeira renda. Fiquei efectiva. Tornei-me personna non grata no meu local de
trabalho. “És provavelmente aquela que melhor escreve e que mais produz aqui
dentro.” – disseram-me – “Mas tenho de te mandar embora porque te ris demasiado
alto na redacção”. Fiquei.
Aos 27 anos conheci a prateleira. Tive o meu primeiro filho. Aos 28 anos conheci o
desemprego. “Não há-de ser nada, pensei. Sou jovem, tenho um bom curriculo,
arranjarei trabalho num instante”. Não arranjei. Aos 29 anos conheci a precariedade.
Desde então nunca deixei de trabalhar mas nunca mais conheci outra coisa que não
fosse a precariedade. Aos 37 anos, idade com que o senhor se licenciou, tinha eu
dois filhos, 15 anos de licenciatura, 15 de carteira profissional de jornalista e carreira
‘congelada’. Tinha também 18 anos de experiência profissional como jornalista,
tradutora e professora, vários cursos, um CAP caducado, domínio total de três
línguas, duas das quais como “nativa”. Tinha como ordenado ‘fixo’ 485 euros x 7
meses por ano. Tinha iniciado um mestrado que tive depois de suspender pois foi
preciso escolher entre trabalhar para pagar as contas ou para completar o curso. O
meu dia, senhor primeiro ministro, só tinha 24 horas…
Cresci mais. Aos 38 anos conheci o mobbying. Conheci as insónias noites a fio.
Conheci o medo do amanhã. Conheci, pela vigésima vez, a passagem de bestial a
besta. Conheci o desespero. Conheci – felizmente! – também outras pessoas que
partilhavam comigo a revolta. Percebi que não estava só. Percebi que a culpa não era
minha. Cresci. Conheci-me melhor. Percebi que tinha valor.
Senhor primeiro-ministro, vou poupá-lo a mais pormenores sobre a minha vida. Tenho
a dizer-lhe o seguinte: faço hoje 42 anos. Sou doutoranda e investigadora da
Universidade do Minho. Os meus pais, que deviam estar a reformar-se, depois de
uma vida dedicada à investigação, ao ensino, ao crescimento deste país e das suas
filhas e netos, os meus pais, que deviam estar a comprar uma casinha na praia para
conhecerem algum descanso e descontracção, continuam a trabalhar e estão a
assegurar aos meus filhos aquilo que eu não posso. Material escolar. Roupa.
Sapatos. Dinheiro de bolso. Lazeres. Actividades extra-escolares. Quanto a mim,
tenho actualmente como ordenado fixo 405 euros X 7 meses por ano. Sim, leu bem,
senhor primeiro-ministro. A universidade na qual lecciono há 16 anos conseguiu mais
uma vez reduzir-me o ordenado. Todo o trabalho que arranjo é extra e a recibos
verdes. Não sou independente, senhor primeiro ministro. Sempre que tenho extras
tenho de contar com apoios familiares para que os meus filhos não fiquem sozinhos
em casa. Tenho uma dívida de mais de cinco anos à Segurança Social que, por sua
vez, deveria ter fornecido um dossier ao Tribunal de Família e Menores há mais de
três a fim que os meus filhos possam receber a pensão de alimentos a que têm direito
pois sou mãe solteira. Até hoje, não o fez.
Tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: nunca fui administradora de
coisa nenhuma e o salário mais elevado que auferi até hoje não chegava aos mil
euros. Isto foi ainda no tempo dos escudos, na altura em que eu enchia o depósito do
meu renault clio com cinco contos e ia jantar fora e acampar todos os fins-de-semana.
Talvez isso fosse viver acima das minhas possibilidades. Talvez as duas viagens que
fiz a Cabo-Verde e ao Brasil e que paguei com o dinheiro que ganhei com o meu
trabalho tivessem sido luxos. Talvez o carro de 12 anos que conduzo e que me
custou 2 mil euros a pronto pagamento seja um excesso, mas sabe, senhor primeiroministro,
por mais que faça e refaça as contas, e por mais que a gasolina teime em
aumentar, continua a sair-me mais em conta andar neste carro do que de transportes
públicos. Talvez a casa que comprei e que devo ao banco tenha sido uma
inconsciência mas na altura saía mais barato do que arrendar uma, sabe, senhor
primeiro-ministro. Mesmo assim nunca me passou pela cabeça emigrar…
Mas hoje, senhor primeiro-ministro, hoje passa. Hoje faço 42 anos e tenho a dizer-lhe
o seguinte, senhor primeiro-ministro: Tenho mais habilitações literárias que o senhor.
Tenho mais experiência profissional que o senhor. Escrevo e falo português melhor
do que o senhor. Falo inglês melhor que o senhor. Francês então nem se fale. Não
falo alemão mas duvido que o senhor fale e também não vejo, sinceramente, a
utilidade de saber tal língua. Em compensação falo castelhano melhor do que o
senhor. Mas como o senhor é o primeiro-ministro e dá tão bons conselhos aos seus
governados, quero pedir-lhe um conselho, apesar de não ter votado em si. Agora que
penso emigrar, que me aconselha a fazer em relação aos meus dois filhos, que
nasceram em Portugal e têm cá todas as suas referências? Devo arrancá-los do seu
país, separá-los da família, dos amigos, de tudo aquilo que conhecem e amam? E, já
agora, que lhes devo dizer? Que devo responder ao meu filho de 14 anos quando me
pergunta que caminho seguir nos estudos? Que vale a pena seguir os seus
interesses e aptidões, como os meus pais me disseram a mim? Ou que mais vale
enveredar já por outra via (já agora diga-me qual, senhor primeiro-ministro) para que
não se torne também ele um excedentário no seu próprio país? Ou, ainda, que venha
comigo para Angola ou para o Brasil por que ali será com certeza muito mais
valorizado e feliz do que no seu país, um país que deveria dar-lhe as melhores
condições para crescer pois ele é um dos seus melhores – e cada vez mais raros –
valores: um ser humano em formação.
Bom, esta carta que, estou praticamente certa, o senhor não irá ler já vai longa.
Quero apenas dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: aos 42 anos já dei muito
mais a este país do que o senhor. Já trabalhei mais, esforcei-me mais, lutei mais e
não tenho qualquer dúvida de que sofri muito mais. Ganhei, claro, infinitamente
menos. Para ser mais exacta o meu IRS do ano passado foi de 4 mil euros. Sim, leu
bem, senhor primeiro-ministro. No ano passado ganhei 4 mil euros. Deve ser das
minhas baixas qualificações. Da minha preguiça. Da minha incapacidade. Do meu
excedentarismo. Portanto, é o seguinte, senhor primeiro-ministro: emigre você,
senhor primeiro-ministro. E leve consigo os seus ministros. O da mota. O da fala
lenta. O que veio do estrangeiro. E o resto da maralha. Leve-os, senhor primeiroministro,
para longe. Olhe, leve-os para o Deserto do Sahara. Pode ser que os outros
dois aprendam alguma coisa sobre acordos de pesca.
Com o mais elevado desprezo e desconsideração, desejo-lhe, ainda assim, feliz natal
OU feliz ano novo à sua escolha, senhor primeiro-ministro
… e como eu sou aqui sem dúvida o elo mais fraco, adeus

Myriam Zaluar, 19/12/2011

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Política e Religião

Bem aventurados os mais ricos da Terra

«Dinheiro é poder. O poder enlaçou-se com a política. A partir deste ponto, os problemas políticos fundem-se com a influência financeira do Vaticano na administração monetária» (Estebam Torres/Internet).
«A Igreja está a tornar-se para muitos no principal obstáculo à fé. Nela não conseguem ver mais que a ambição humana pelo poder... » (Joseph Ratzinger, 1977, como Prefeito do ex-Tribunal do Santo Ofício), antes de ser papa.
«A constituição de uma Autoridade Pública Mundial ao serviço do bem comum é o único horizonte compatível com as realidades globais… dando vida a alguma forma de controlo monetário para gerir o mercado financeiro… mesmo que à custa da transferência gradual e equilibrada de uma parte das atribuições (de soberania) nacionais» («Nota sobre a reforma do sistema financeiro e monetário mundial», Comissão Pontifícia Justiça e Paz, Outubro 2011).
O Vaticano abandonou o seu silêncio «de chumbo» para mostrar como está atento à crise geral do capitalismo e como se empenha em salvar o sistema. Não é sem razão de ser que isto acontece. A Igreja católica é actualmente o mais poderoso grupo financeiro mundial. Embora seja impossível dar sequer uma ideia aproximada das dimensões reais do seu poderio – sobretudo político, económico e financeiro – façamos no entanto uma incursão no que é praticamente desconhecido.
Temos visto pelos jornais como o preço dos metais preciosos, nomeadamente o oiro, tem crescido em flecha nos recentes tempos da crise. Pois a Igreja mundial, reconhecida como a mais importante detentora de metais preciosos, tem recolhido a maior parte dos lucros destas oscilações cambiais. Nos anos 80 do século vinte, antes da galopada dos preços começar, calculava-se que em todo o mundo o Vaticano detivesse nos seus cofres lingotes num valor superior a 6 mil milhões de dólares. Isso, só em «oiro sólido» (oiro em barras, com exclusão de outros metais preciosos trabalhados ou não (pepitas, objectos de oiro, moedas, peças incrustadas em altares, etc.).
Também, tanto quanto se sabe, por alturas dos finais do século XX e só nos bancos suíços e ingleses o Vaticano detinha em acções, pedras preciosas, objectos de arte, etc., etc., reservas superiores a 11 biliões de dólares. Os poucos dados conhecidos permitem, igualmente, calcular que os bens eclesiásticos num só país – os EUA – considerado espelho da prosperidade capitalista, a Igreja administrava valores em bens imobiliários, acções, depósitos financeiros e outros investimentos que excediam a soma dos capitais sociais dos dez principais grupos económicos norte-americanos.
Na declaração da «Comissão Pontifícia Justiça e Paz» a que à margem deste texto se alude, reconhece-se que actualmente, em todo o mundo, um trilião de seres humanos sobrevive com um rendimento de 1 dólar por dia. Por outro lado, admite-se que uma tal situação resulta de deficiências da gestão política e da prática de um liberalismo «tecnocrático». Mas não se fala no papel activo que o Vaticano tem desempenhado na construção deste quadro político e social.
A complexa rede financeira dirigida pela Santa Sé depende directamente do Papa, da Cúria Romana e do IOR – Instituto para Obras Religiosas, correntemente conhecido como Banco do Vaticano. Aparentemente, desempenha as funções que são comuns a qualquer banco. Na realidade, a rede vai muito mais além e é a sede da mais importante central financeira mundial. Giram na sua órbita bancos extremamente poderosos como o Pax, o J.P. Morgan ou o Deutsch Bank. Domina extensos impérios bancários, através da compra directa de grandes lotes de acções. Domina, por intervenção de terceiros, interesses que determinam as orientações dos verdadeiros centros de decisão mundial, tais como o G20, o Clube de Bilderberg,o Foreign Council norte-americano ou os Illuminati. Desenvolve constantes actividades criminosas, nomeadamente as lavagens de dinheiros, os desfalques, o contrabando e a corrupção, como está demonstrado pelos permanentes escândalos que envolvem o IOR (Ambrosiano, P2, falsas fundações, IPSS ou Fundos de Caridade, desvio de subsídios do Estado, operação «Mãos Limpas», etc., etc.).
Em Itália, como em Portugal, aos responsáveis por estes crimes nada acontece.Estão protegidos pelos escudos invisíveis das «Concordatas».É o princípio de uma longa história. Mas, por hoje, temos de ficar por aqui.

Jorge Messias ( Jornal Avante)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Argumentos

O Natal dos ricos


Dificilmente esquecerei aquele dia em que, devido aos bons ofícios da televisão, soube da enorme dificuldade, pela própria confessada, que a drª. Manuela Ferreira Leite tem em distinguir os ricos dos pobres. Lembro-me de que durante muito tempo andei deprimido, a imaginar a confusão que andaria por aquela pobre cabeça, aliás excelente e porque excelente com grande vocação ministerial na área das finanças e não só, como é sabido. A mim, felizmente, pouparam os céus tamanha desgraça, e por isso vou distinguindo entre ricos e pobres decerto graças aos sinais que decerto me são enviados do alto acompanhados pelo discernimento que me permite distinguir entre uns e outros. E por esta altura do ano, muito especialmente neste ano de 2011 que se acaba agora, essa capacidade tem ainda maiores possibilidades de se exercer. É que a chamada quadra do Natal é particularmente propícia não só a que a televisão se lembre dos pobres mas também a que os próprios pobres surjam pessoalmente nos ecrãs dos televisores, o que dificilmente ocorre durante o resto ano. Bem se pode dizer, pelo menos quando se fala de TV, que o Natal é o tempo da hiperpublicidade dirigida ao consumismo infantil e das imagens de pobrezinhos a aquecerem-se com uma sopa que generosamente lhes é servida por excelentes senhoras ou, se não propriamente por elas, pelo menos a seu mandado e sob seu apoio financeiro. São imagens que de um modo ou de outro nos tocam o coração, naturalmente. Tanto ou mais quanto as mensagens natalícias do senhor Presidente da República, desta vez coadjuvado pela sua esposa, assim se provando como é pesado o exercício das funções que exerce e como lhe é conveniente que alguém o ajude a suportar-lhes o peso.

Se
Entretanto, e decerto porque a providência suprema nunca está totalmente adormecida, nem tudo são penúrias e carências neste Natal português de 2011. Não apenas pelo que a televisão nos vem contando mas também pelo que à margem dela se vai conhecendo, vamos tendo o reconforto de saber não apenas que os ricos continuam a existir em Portugal mas também que, segundo fontes internacionais, estão cada vez mais distantes e acima dos pobres, o que certamente lhes é óptimo. É certo que o País globalmente considerado não ganha nada com isso: esses «ricos cada vez mais ricos» não se dão ao incómodo de investir sequer parte das suas capacidades financeiras em actividades produtivas que possam atenuar o défice das nossas contas externas, preferindo presumivelmente a transferência para off-shores que são colocação mais compensadora, mas pelo menos permitem que Portugal se possa orgulhar da sua existência, o que já é bonito. É de crer, além disto, que pelo menos uma pequena parte deles dê algum apoio a iniciativas caritativas que um pouco por todo o lado vão acontecendo, o que não só pode calar a boca aos que se obstinam em falar de classes e da sua permanente luta como garantirá a esses ricos, em reconhecimento do seu excelente coração, um lugar na primeira fila do Além quando lhes chegar a hora final. Entretanto e enquanto esse inevitável desenlace não chega, é óbvio que os ricos, os tais que a doutora não consegue distinguir, vão recebendo nesta vida substanciais adiantamentos por conta e, precisamente, este Natal é um momento óptimo para que isso se torne visível. Todos nós, gente comum, graças ou não à TV podemos saber dos milhares de cidadãos em quem o desemprego frutificou em fome, das crianças a quem mesmo durante as férias de Natal as cantinas escolares fornecem a comida que elas não encontram em casas dos pais, do total desamparo que acaba por se exprimir no aumento da delinquência. Mas, porque a mesma TV nos disse do aumento do tal fosso entre ricos e pobres, sabemos também que forçosamente haverá excelentes e muito felizes Natais entre os mais ricos, e bem se poderá dizer que é o que nos vale, pois do horizonte permitido pela intensa actividade do Governo não é visível que nos possa valer mais nada. De tudo quanto se sabe pela TV e não só, este Natal de 2011 vai ser o Natal dos ricos e o inferno dos pobres. Com um só factor para um eventual e muito relativo sentimento de conformação: o Governo já anunciou, ainda que indirectamente e por meias palavras que aos bons entendedores hão-de bastar, que o Natal de 2012 será ainda pior. Para os pobres. Entenda-se: se estes, compreensivos, deixarem.

Correia da Fonseca (Jornal Avante)

Política e Religião

Camarote para a Concordata

«A espada que não se enterra no coração dos senhores,
dos culpados/enterra-se no coração dos pobres,
dos inocentes» (Paul Eluard, poeta francês comunista, século XX, «Poemas para todos»).

«Para transformar o mundo é preciso mais do que orações. São necessários actos. Mais do que actos privados actos universais, políticos. O proletariado aprendeu isso à sua custa e ensina-o hoje a toda a humanidade. O amor moderno que se tem aos outros é político ou, então, não será amor. Poder-se-á hoje amar os homens sem pôr em causa o Capital, quando tanto sofrimento ele lhes causa? Poder-se-á amar a humanidade, ou as pessoas, sem lutar contra a guerra quando esta pode pôr em causa a existência da humanidade, como espécie? E, uma vez que a propriedade e a guerra são negócios de Estado, poder-se-á amar os homens do século XX sem vigiar o Estado? Não é a política o único meio de dar ao amor um conteúdo prático e universal?» (Karl Marx, «Sobre a religião»).

«Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever, em razão de ascendência, sexo, raça, língua, territórios de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social» (Constituição da República Portuguesa,
artº. 13º., nº. 2).

De entre os chavões usados pela hierarquia católica contam-se «palavras de ordem» destinadas a descrever a sociedade civil como apolítica e moralmente sensível aos problemas desencadeados pela exploração do homem e aos direitos deste. Não é assim entendido em boa parte do país católico. Mas é por demais evidente que quanto maior for a pobreza, maior é a exploração. Quanto mais crescer o desemprego mais se avolumarão as grandes fortunas. Com o capitalismo neoliberal e imperialista nos comandos do País caminhar-se-á irreversivelmente para uma sociedade concentracionária, monocolor e policial. A «Nova Era» é a «Velha Ordem» fascista. E não é verdade que a influência de uma religião conduza a mais apurada consciência cívica.
O comportamento do alto clero é prova viva desta mortal situação. Apoia explicitamente a «equidade» dos sacrifícios impostos ao povo e os critérios do pacto de agressão e prospera, à sombra disso, com novos subsídios estatais, com a devolução à Igreja de bens e equipamentos, com a vergonhosa protecção do Estado à banca (que a Igreja directa ou indirectamente domina), com o encaixe de grossas fatias das chamadas verbas comunitárias, com crescentes isenções fiscais, com os lucros das suas lotarias e offshores, com os «poços sem fundo» das suas fundações, etc. Isto, no plano dos ganhos materiais.
Mas com a crise provocada pelas vertigens do capitalismo, a Igreja também soma e segue no plano político. Muitos dos atropelos legislativos praticados pela maioria do centro-direita serviram como vias rápidas para a escalada do poder do aparelho católico. Refira-se, a título de simples exemplos, a legislação que permite às instituições não lucrativas (IPSS) a associação com holdings lucrativas; as medidas que reformam ou extinguem freguesias ou serviços essenciais do Poder Local, deixando as populações novamente nas mãos das velhas paróquias e das organizações caritativas da Igreja; o encerramento compulsivo de serviços estatais essenciais, o que promove o aumento da procura de estabelecimentos privados quase sempre ligados à Igreja; leis perversas, tais como as do Programa de Emergência Social e da Rede Nacional de Solidariedade, que minam os alicerces da democracia e são talhadas à medida da capacidade dos meios que a Igreja já possui. Assim, a Igreja católica, tradicionalmente instalada nas cúpulas de todos os centros de decisão, penetra anonimamente nas bases e níveis intermédios do colectivo democrático.
O cardeal e os bispos instalam-se comodamente nos camarotes da Concordata, como se fossem meros espectadores, e deixam andar. A Concordata é um lugar seguro. É indiferente que o Estado português se proclame laico, segundo a Constituição e negue na prática o que afirma em teoria. Também diz que a soberania reside no povo e… na realidade, é o que se vê!
A fortuna total da Igreja é segredo bem guardado, como seria de esperar. Porém, apoiados na comunicação social, talvez possamos arriscar um passo que seja nessa selva ferozmente defendida dos olhares dos leigos. A fonte serão os jornais e a Internet.

Jorge Messias (Jornal Avante)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Política e Religião

A fatídica pirâmide de degraus


«Os cristãos não se podem limitar a praticar actos de culto, têm de estar na rua, têm de saber dizer não quando sentem que há que dizer “não” … porque dizer não em voz alta, mesmo de forma ruidosa, é um direito que assiste a todos aqueles que se sentem ofendidos na sua dignidade e àqueles a quem são retiradas possibilidades de vida digna» (António Soares, Comissão Justiça e Paz, Setúbal, 21.11.2011).
«A ideia de que a função dos portugueses é dizer mal dos governos… não pode ser ! O problema não se resolve se cada um puxar a brasa à sua sardinha. Portugal sempre honrou os seus compromissos ! Se nós colaborarmos todos, o próprio Governo encontrará as soluções mais adaptadas ...» (D. José Policarpo ao Jornal de Notícias, 4.10.2011).
«Não é a consciência do homem que determina o seu ser; é o inverso, é o seu ser social que determina a sua consciência» (Karl Marx, «Contribuição à crítica da economia política»).
Dizem os conhecedores que a pirâmide perfeita só foi concebida após longas tentativas e a partir de outras pirâmides irregulares, de degraus. O problema não estava na concepção da construção em vista. Residia na deslocação dos materiais pesados; quando essa dificuldade ficou resolvida, logo as pirâmides de faces lisas começaram a surgir nos desertos. Depois, o tempo arruinou a maior parte delas. Tombaram as grandes placas de pedra. Voltaram a surgir os degraus irregulares. Poucas construções sobreviveram.
Esta imagem pode servir de ilustração às realidades actuais do capitalismo como sistema universal o qual, dia-a-dia, irremediavelmente se degrada. No seu percurso, os capitalistas conduziram os povos ao deserto e construíram aí um paraíso artificial. Imaginaram um mundo à medida dos seus desejos. Depois – como não podia deixar de ser – a realidade sobrepôs-se à utopia. Se prestarmos atenção ao que os próprios banqueiros agora reconhecem, notaremos que falam cada vez menos em crise e cada vez mais em derrocada eminente do euro, alicerce principal da União Europeia e do próprio capitalismo como sistema político e financeiro.
Entretanto, os próximos tempos vão surpreender multidões desprevenidas. Também elas confiaram um dia na «varinha mágica» dos «bons banqueiros» que tudo prometiam. Admitiram, talvez para alimentarem a sua própria ilusão, que o dinheiro fácil do crédito que jorrava da banca era tirado aos ricos para dar os pobres. Completa burla. E a igreja colaborou nesse crime.
Afinal, esse dinheiro era o do povo, pago com o seu suor. Ao «emprestá-lo» aos trabalhadores, os ricos ficavam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. O dinheiro produzia cada vez mais dinheiro, mais desemprego, mais fomes e mais guerras, subida do custo de vida, golpe sobre golpe no Estado social. Os lucros concentravam-se nas mãos dos multimilionários. É nesta fase de transição que nos encontramos.
Logo a seguir virá o caos.
Os povos depressa aprenderão que os sacrifícios impostos são dirigidos contra os pobres e que as tentativas de saque selvagem agudizam sempre as lutas de classes. O que ainda falha em muitos cidadãos atingidos pela exploração é a compreensão de que eles próprios constituem um poder decisivo ao qual só falta em parte a consciência da força que possui. Outro será o homem de amanhã. Marx previu-o naquele pensamento citado à cabeça das linhas deste texto: a consciência social forma-se na escola da realidade.
Os católicos começam a entender todas estas razões. A partir de agora nada será como dantes. As portas de oiro cerram-se uma a uma. Encurralado, o Capitalismo vai tentar cilindrar o Trabalho e esmagar os direitos dos trabalhadores, sejam eles ateus, agnósticos ou crentes. Do «outro lado da barricada» alinha a hierarquia da igreja que valida as medidas do grande capital universal, adere às acções do Governo, apoia a troika e reclama um só poder no governo das nações. Os cardeais e os bispos agem em termos de mercado. É-lhes indiferente que as suas opções resultem na recondução das situações que conduziram, entre as duas guerras, à ascensão do fascismo e à militarização da sociedade, factores que voltam a estar sobre a mesa e que apontam para uma III Guerra Mundial.
Será rápida, cruel e decisiva esta fase do despertar das massas populares. Lutaremos lado a lado e sofreremos. Mas, finalmente, venceremos!.
O Socialismo é a única via aberta ao futuro colectivo da Humanidade.

Jorge Messias (Jornal Avante)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Política e Religião

Um esboço de poder confessional

«As instituições sociais são fundamentais, absolutamente essenciais para podermos dar uma resposta em tempo de crise. É preciso que o Estado tenha a humildade de pedir ajuda às instituições sociais. Neste momento, nós sabemos que o Estado não pode estar sozinho… Conhecemos a situação de cerca de um milhão de pensionistas que recebem uma pensão mínima de 247, 227 ou 189 euros !» (Pedro Mota Soares, ministro da Solidariedade e Segurança Social, Jornal Solidariedade, Novembro de 2011).
«Não gosto de falar em actividades lucrativas em instituições sociais, não têm essa vocação. No entanto, elas podem ter resultados operacionais positivos que ajudem a potenciar as respostas que as próprias instituições têm...» (P. M. Soares, idem, idem).
«São tarefas fundamentais do Estado...Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e sociais» (Constituição da República, Art.º 9.º).
A «dívida soberana» portuguesa e os sacrifícios impostos pelo Estado aos cidadãos não cessam de crescer. Criou-se uma situação irreversível que é da total responsabilidade do sistema capitalista que motiva as actuais forças dominantes. O Estado gastou recursos de que o País não dispunha, asfixiou as actividades produtivas e impôs uma política consumista que conduziu o País à falência. Assinou com o FMI um contrato criminoso que entrega a estrangeiros a soberania nacional. Agora, procura vender património ao desbarato, encontrar sócios financeiros interessados e manter, simultaneamente, as políticas de destruição dos institutos constitucionais. É lixo, a Constituição de Abril.
Naturalmente que o «caso» português seria muito simples de resolver pelas oligarquias e pelos monopólios numa situação capitalista próspera. Mas como o panorama universal que se apresenta é catastrófico, os falidos governantes portugueses precisam de se socorrer de remédios caseiros. Vão sacar o dinheiro onde quer que ele esteja, menos aos bancos. Aí, nas catedrais do capital, o terreno é sagrado.
Em tais cenários, portas adentro as alternativas são mínimas.
O Estado tem muitos produtos para oferta. Mas o mercado é tremendamente limitado. Reduz-se, na verdade, a dois gigantescos grupos económicos: o dos monopólios financeiros e o lobby da Igreja Católica nacional que dispõe igualmente de uma gigantesca massa de recursos e ligações a nível mundial. Constata-se, em termos globais, que nos planos político e económico, esses dois gigantescos polvos se organizam, sobretudo, por detrás de estruturas abissais e secretas como o Opus Dei e a Maçonaria. Nelas se fixam os olhares angustiados dos ministros. Mas para se progredir nessa via é necessário conciliar interesses.

O segredo é a alma do negócio

E é aqui que «a porca torce o rabo».
À boca de cena, Igreja e Maçonaria parecem incompatíveis, o que não é tanto assim. Ambos pretendem a substituição do Estado burguês, falido e desprestigiado, e uma nova arrumação de valores. Simplesmente, num caso e noutro, os figurinos são diferentes. Os grandes capitalistas laicos, puros e duros, querem que a Nova Ordem avance já, sem olhar a consequências, com os olhos postos num universo onde o trabalho seja completamente escravizado ao lucro e ao crescimento monopolista. Tudo pela força.
A Igreja escolhe outros caminhos. Também ela visa assumir o poder e instalar no País uma chefia dura, fundamentalista e confessional com um governo «forte». Mas sabe que tudo tem o seu tempo e que vale a pena esperar… avançando. Para isso, precisa da gerir a crise. O Vaticano sabe que o caos não só pode provocar-se mas que também pode gerir-se. De que modo? Conquistando os centros de decisão, um após outro. A Segurança Social, a Educação, a Saúde, a Cultura, a Justiça. Para já, um a um, todos lhe vão caindo nas mãos. Usando a persuasão ou a força. Não esquecendo, por exemplo, que a caridade em tempos de fome é uma excelente ferramenta do Poder.
É claro que há-de ser o Povo a pagar os custos de tudo isto. E não por um dia, por um mês, por uma semana, por um ano ou por um século. Se no mundo o capitalismo sobreviver penetraremos num novo ciclo da História. O da Nova Era ou Nova Ordem, saqueadora, brutal, fascista e capaz de impor à massa anónima o capitalismo como uma religião e a religião como ópio.
Ocupemos os nossos postos de combate

Jorge Messias (Jornal Avante)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Politica e Religião

Caos e Nova Ordem Mundial


«É uma grande ideia a de uma Nova Ordem Mundial, onde diversas nações se unam por uma causa comum para realizarem as aspirações universais da humanidade: paz, segurança, liberdade e autoridade da lei. Para tal, só os Estados Unidos reúnem duas condições essenciais de liderança – a posição moral e os meios de garanti-la!» (Georges Bush, presidente dos EUA e membro da Maçonaria).
«Aproximadamente 200 delegados encerraram uma reunião interfé que durou uma semana, em Standford USA, prevendo-se que tenham criado um Movimento, bem como uma instituição espiritual. Digam às pessoas que existem as Religiões Unidas.... Após vários anos de discussões, os promotores da iniciativa passaram a tratar de negócios». (NETSaber, Walter Cipriano).
«Segundo os ensinamentos do socialismo, isto é, do marxismo (pois de socialismo não-marxista não podemos agora falar seriamente), a verdadeira força motriz da história é a luta revolucionária das classes, ao contrário do que dizem os filósofos burgueses quando afirmam que a força que impulsiona o progresso é a solidariedade de todos os elementos da sociedade» (Lenine e F. Fedosoeyev in «A Teoria marxista das classes e da luta de classes»).
A palavra de ordem dos sistemas agora no poder é destruir. Cultiva-se a desordem e a miséria. Os responsáveis políticos, económicos e religiosos procuram impor ao povo uma só condição: nós gastámos; nós endividámo-nos; nós somos ricos; nós comprometemo-nos a pagar... Vocês pagam!
Os que não cessam de enriquecer são sempre os mesmos. Chega a ser monótono… Banqueiros, especuladores, governantes e ex-governantes, traficantes, demagogos, etc. Os que pagam, também os mesmos são: trabalhadores, famílias, pensionistas, juventude, humildes, crianças e marginalizados. A responsabilidade desta situação – dizem os ladrões –
A falsidade desta alegação é evidente. É fundamental tirar ao povo tudo o que tem e juntar ao roubo a noção de culpa dos próprios espoliados. Com isto, baralhar e confundir todas as classes e a opinião pública. Uma estratégia familiar aos capitalistas.
Por muito que nos pese, o 25 de Abril não foi o acto final do pesadelo fascista. Data inegavelmente básica, apenas marcou uma baliza da «luta de classes». O generoso projecto de uma sociedade mais justa e desenvolvida apenas se deixou entrever. Logo foi reabsorvido pelas forças ultra conservadoras. A princípio, prudentemente, de forma gradual. Mas depois, a operação foi-se acelerando até se mostrar à luz do sol, descaradamente.

Os compadres do episcopado

Seria claramente injusto «meter no mesmo saco» príncipes da Igreja e povo católico. Os príncipes cantam de galo e sobem ao poleiro dos banqueiros. O povo católico vai suportar, exactamente como o povo laico os mesmos assaltos dos ricos. Estes, depois debitam as despesas e as suas facturas não olham à justiça social. Exigem pagamento. Enriquecem os ricos e empobrecem os pobres. Esta arrogância liga o motor de arranque da luta de classes.
O chamado magistério da Igreja está a receber, assim, um rude golpe. A questão é que, ao alinhar incondicionalmente com os objectivos do capitalismo, a hierarquia católica aumenta desmedidamente a sua fortuna e afirma-se como grande pilar das finanças mundiais. Mas destrói irremediavelmente o que resta da sua imagem tutelar de guia espiritual. A Igreja, passa a ser um gestor bem sucedido no mundo dos gestores. Fica com as escolas, com os hospitais, com os off-shores, com os seus bancos, com os seus latifúndios, com as suas sociedades secretas, com a sua manifesta influência a nível do poder. Mas perde perante os seus fiéis todos os sinais distintivos que eventualmente a definiam como entidade aparte do materialismo mais boçal. Paz à sua alma!...
Pelos caminhos que os acontecimentos tomam, o caos é já amanhã. O povo vai erguer-se e lutar, o que exige um enquadramento a que a Igreja renunciou ao optar pela nova ordem fascista dos multimilionários. Que farão nessa altura os cidadãos católicos senhores dos seus direitos e dos seus deveres de cidadania? Calam-se e esperam que a vontade de Deus se revele? Deixam que os seus bispos interpretem os factos ao sabor dos seus interesses? Ou passam à luta?
A luta, amigos católicos, é para todos nós. Complexa e para os católicos livres ainda mais difícil do que para nós. Terão de bater-se em duas frentes: contra o capitalismo e pela moralização da sua própria Igreja.
Combates a que os católicos não virarão as costas!


Jorge Messias (Jornal Avante)

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Bento de Jesus Caraça

Em Maio de 1933, numa conferência titulada "A cultura Integral do Indivíduo - Problema do Nosso Tempo"Bento de Jesus Caraça dizia coisas que podemos, sem quaquer problema, transporta-las para os dias de hoje pela sua actualidade!


Dizia ele:


Encargo pesado, pois não é fácil tarefa o alguém abalançar-se hoje a emitir juízo, por
mais despretensioso que ele deseje ser, sobre o tempo que vivemos. Mas não há também
tarefa mais importante nem mais urgente. O que o mundo for amanhã, é o esforço de todos
nós que o determinará. Há que resolver os problemas que estão postos à nossa geração e essa
resolução não a poderemos fazer sem que, por um prévio esforço do pensamento,
procuremos saber, por uma análise fria e raciocinada, quais são esses problemas, quais as
soluções que importa dar-lhes – saber donde vimos, onde estamos, para onde vamos.
E pensemos, agora que ainda o podemos fazer. Amanhã pode ser tarde, porque a
tempestade que tem vindo a acumular-se sobre as nossas cabeças pode desencadear-se e
arrastar-nos nos seus turbilhões brutais. A violência da borrasca não nos permitirá que
façamos mais do que gestos elementares e instintivos que só não nos trairão se forem, a todo
o momento, orientados e dominados por uma personalidade de uma só peça, aquela
personalidade que agora temos de forjar – enquanto é tempo.
O dizer-se que a época actual é caracterizada essencialmente por uma perturbação e
inquietação vivas, é já quase um lugar comum, de tal maneira isso se impõe, mesmo após o
mais superficial exame. Não é, contudo, demasiado repeti-lo, pois há muitos sujeitos de
ouvido duro que ainda o não compreenderam ou não quiseram compreender e que, numa
cegueira teimosa, continuam a querer aplicar, para medida de valores numa sociedade
abalada nos seus fundamentos, aqueles padrões cujo uso já de há muito não é legítimo.
Desenganem-se essas pessoas. O que estamos actualmente vivendo e sofrendo não é
apenas uma borbulhagem fugaz, destinada a passar como tantas coisas passam, sem deixar
sinal; é, muito pelo contrário, uma época de transição, uma ponte de passagem entre aquilo
que desaparece e o que vai surgir. E nessa ponte de passagem chocam-se todas as correntes,
coexistem todas as contradições, fazendo dela aparentemente uma feira de desvarios e, na
realidade, um formidável laboratório de vida.


Quelha Funda

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Política e Religião

A Teoria Conspiratória da Nova Ordem

«Debaixo das amplas ondas da História humana fluem as ocultas correntes subterrâneas das sociedades secretas que, frequentemente, determinam das profundezas as mudanças que ocorrerão à superfície...» (Edmond Waite, «A verdadeira história», 1977).

«O movimento dos illuminatti (os iluminados) da Baviera foi fundado por um padre jesuíta, Adam Weishaupt, em 1776 … e, mais tarde, juntou-se à Maçonaria com o objectivo de infiltrá-la, unificá-la e submeter à autoridade dos 'iluminados' todas as ramificações maçónicas... Os planos mais secretos desta seita foram encontrados em 1784, entre as vestes do abade Lanz … Tratava-se de planos secretos para a conquista do mundo» (Wikipedia/Illuminati, Enciclopédia Livre).

«A terceira guerra mundial tem de ser fomentada de forma a tirar vantagem das diferenças causadas pelos agentes Illuminati entre os sionistas políticos e os líderes do mundo islâmico. Essa guerra tem de ser conduzida de forma a que o Islão (Mundo Árabe Muçulmano) e o Sionismo político (Estado de Israel) se destruam mutuamente» (William G. Carr, «Peões em jogo»).

O que mais interessa ao povo comum é saber identificar o passado dos exploradores e a actualidade dos métodos de exploração do homem; e que espécie de mundo prometem reservar as elites dos «illuminati» aos míseros trabalhadores que somos. Por isso voltamos – e voltaremos – a falar nas intrigas que recheiam os Protocolos dos Sábios de Sião, uma espécie de texto sagrado dos pró-nazis monopolistas que dominam os actuais governos em funções.
É cada vez mais evidente que prossegue a uma cadência rápida a recuperação das forças nazi-fascistas. É uma dinâmica que jamais se esgotará por si mesma. Só a luta organizada dos povos e a informação da classe operária a conseguirá deter. Os acontecimentos políticos das últimas semanas têm confirmado que todas as forças dominantes do capitalismo apoiam abertamente a constituição de um só governo da Europa, a divisão financeira da zona euro, com estatutos diferenciados para países ricos e países pobres, o reforço das estratégias da guerra, as seguranças anónimas e privadas, a secundarização das constituições nacionais, etc. Tudo isto são operações clássicas de abertura à passagem de escalão ao poder totalitário da direita.
A Igreja e a acção católica mundial acompanham e intervêm favorecendo estas mudanças. É ver só como os novos ministros gregos prestam juramento com a mão sobre a Bíblia e não sobre a Constituição da República, para depois se benzerem profusamente; ou como as universidades católicas ou de influência católica – com destaque para as universidades de Navarra e de Stanford – desenvolvem febrilmente planos de adaptação da «Teoria do Caos» às estratégias de domínio dos capitais transnacionais monopolistas. Isto, à mistura com a diabolização do «pavor da violência das massas» e o reforço semi-encapotado da corrupção do poder.

A III Guerra Mundial e as ruínas de Portugal

As propostas contidas nos documentos básicos já divulgados revelam cenários de guerra mundial, o reforço da influência das sociedades secretas, a instalação de estados autoritários com reduzidas competências de soberania; todo este novo arranjo institucional convergindo num fecho de cúpula representado por um governo único europeu dotado de poderes globais e responsável central pela instalação da nova ordem mundial dos monopólios. O mesmo já se defendia nos Protocolos, com uma linguagem sem rodeios, directa e brutal. Sem papas na língua.
Recentemente, num Portugal em ruínas, os bispos reuniram-se a pretexto da situação social portuguesa. Falaram em coisas sérias como o desemprego, a indignação, a equidade, a partilha, etc.? Talvez sim, mas o comunicado final da reunião foi um rol de banalidades. Só o cardeal-patriarca se permitiu declarar, com bom humor, que «ninguém pense em dominar os mercados».
Declaração singular, se pensarmos que o Vaticano tem sobre a mesa uma proposta de reforma do sistema financeiro que exige um único governo mundial e um só banco central com capacidade para controlar os mercados financeiros.
O que prova que os mercados afinal podem obedecer (e obedecem!) a ocultos poderes. Acrescente-se ser estranho que um cardeal, num país que se abeira da miséria, apareça em público como um mentor financeiro e não como o pastor de um rebanho crente em transe de vida ou de morte.
Os católicos devem estar atentos às posições da sua Igreja

Jorje Messias (Jornal Avante)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Política e Religião

Nos bastidores da «crise»

«Todo o poder de decisão das multidões depende de uma maioria ocasional, superficial, instalada na base da sua ignorância dos segredos da política… Assim, a Nova Ordem aposta na fome crónica e na fraqueza dos operários, para que tudo os escravize à vontade dos que mandam e de forma a que fiquem sem poder, força e energias para se oporem às nossas intenções» (Protocolos dos Sábios de Sião)
«A finalidade da justa ordem social é garantir a cada um, no respeito do princípio da subsidiaridade, a própria parte dos bens comuns... Só através da caridade iluminada pela luz da razão e da fé é possível alcançar os objectivos do desenvolvimento» (Caritas in veritate, Bento XVI)
«O descontentamento popular perante os actuais desenvolvimentos nos planos das relações laborais, segurança social, serviços públicos, como também nos planos das incontroladas injustiças e violências nacionais e internacionais, encontrará forma de traduzir-se em acção» (Imperialismo: seus limites e alternativas, Rui Namorado Rosa, 2004)Os capitalistas vivem em sobressalto. Foi-se a arrogância e a euforia dos banqueiros. Os padres, quando falam em «crise» tocam a rebate mas o som que extraem é o do «toque a finados». Entretanto, multiplicam-se os escândalos públicos e o tão badalado aparelho de Estado capitalista estremece e declina aceleradamente.
Degrada-se nas bolsas o valor do euro e do dólar. Também a palavra se desvaloriza. O crédito do palavreado que enche o ouvido cai a pique na opinião pública que pouco a pouco vai entendendo a natureza corrupta dos governantes e o pavor que lhes inspira a possibilidade de uma reacção das massas exploradas.
Ninguém, é certo, pode estabelecer calendários para as fases futuras desta dramática situação. Ou, inclusivamente, pode antecipar as dimensões da tragédia que se desenha. Quando se vê acossado, o capitalismo mostra as garras. É um animal feroz.
O que também aumenta, a par do desemprego e da pobreza, é a confusão geral. O euro tem dez anos de idade e já está de rastos. Prometeu a prosperidade e conduziu à miséria dos povos. Gerou fortunas brutais entre os ricos e os especuladores. Escavou um fosso social ainda mais profundo e mistificou o Estado dito democrático.
Este é um esboço possível das chagas produzidas pelo neoliberalismo global.

O mundo em que vivemos

Segundo afirmam analistas, o euro é europeu e o capitalismo é global. Mas a diferença é irrelevante. Tudo está nas mãos da banca que prospera ao sabor das bolsas de valores e cujos capitais – estatais, privados ou mistos – são sagrados. Em todo o mundo, menos de 1% das empresas financeiras controlam 40% dos bens produzidos. Junte-se a este montante astronómico os lucros reais obtidos pelos offshores, pela economia paralela, pelo mundo do crime, pela especulação, pelos mercados paralelos, pelas engenharias financeiras, etc. Teremos então formado uma ideia – ainda que incompleta – das dimensões do roubo mundial a que muitos ainda assistem como vítimas passivas.
No outro pólo alastra a mancha negra da fome e da miséria. Mesmo nos países mais desenvolvidos, o desemprego atinge 50 milhões de trabalhadores. Há muito mais do que 60 milhões de pobres em todo o mundo ocidental. As estruturas do Estado social são sistematicamente destruídas pelo neoliberalismo.
Isto não pode continuar assim.
A Igreja faz pesquisa e sabe que a passividade das massas não é eterna. Que ela própria tem uma imagem a defender junto da humanidade e que não será intervindo directamente ao lado dos exploradores que conseguirá reforçar a sua influência entre as populações. As sortes, porém, estão lançadas. O Vaticano traçou para si um caminho irreversível.
A Igreja portuguesa (aquela que, naturalmente, está para nós em primeira linha) é um exemplo deste efeito paralisante que rouba aos gigantes a noção da sua fragilidade. As hierarquias eclesiásticas, para garantirem um lugar entre os mais ricos, calam-se perante o crime, a brutalidade, a injustiça e a corrupção. São agentes activos do que acontece em Portugal e no mundo. Isto é, valem-se de um sistema iníquo para consolidarem, em plena crise, os seus patrimónios.
Se o Patriarcado negar que assim é, então aqui fica uma proposta: que divulgue voluntariamente contas honestas das verbas fabulosas que lucra com a especulação financeira, os jogos bolsistas, os offshores, o imobiliário, as isenções fiscais da Concordata, etc., etc.
Os católicos deveriam lutar pelo acesso a estes esclarecimentos elementares

Jorge Messias (Jornal Avante)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

As mentiras da gente que nos governa!

O Discurso da Impostura

No discurso do poder há uma expressão quase insistente que pretende amparar, como bondosas e altamente patrióticas, as decisões tomadas. "Tomámos em conta os superiores interesses do País." Esta impositiva forma de inevitabilidade política inculca-nos a ideia de que não há nada a fazer senão admitir com consideração e aceitar com respeito as determinações governamentais, quaisquer que elas sejam. Faz lembrar a famosa locução do salazarismo: "Tudo pela nação. Nada contra a nação."
Uma espécie de controlo impeditivo de um pensamento contrário. E, afinal, quais são "os superiores interesses do País"? A experiência no-lo tem revelado que a unilateralidade dos resultados desses "interesses" apenas se destina a favorecer uma minoria, e a abrir-lhe os caminhos de acesso ao poder. Esta impostura, por insistente (tanto Guterres, quanto Durão, Sócrates, Passos Coelho ou Seguro serviram-se da expressão), distingue-se por criar uma espécie de absurda legitimidade. Os tais "interesses" não são os da esmagadora maioria dos portugueses, e a perseverança com que os dirigentes políticos os nomeiam constituem o abastardamento da lógica interna da frase e da pressuposta grandeza do seu significado.
A base constitutiva da nação é a maioria dos portugueses, exactamente aqueles que são mais atingidos pelo infortúnio, e que não estão representados nos "interesses" defendidos pela classe dominante. A expressão, no seu formalismo hiperbólico, é o dispositivo gramatical de um sistema que não deseja ser questionado, por estar ausente de qualquer requisito moral.
No entretanto, Pedro Passos Coelho, grave e denso, avisa-nos de que, para sair da crise, "temos" de empobrecer. Temos, quem? Os mais de nós, atingidos pelas políticas cuja natureza dissimula uma devassidão ética e uma triste barragem ideológica. A vida, para os portugueses, vai ser muito difícil, avisa. Logo, porém, sorridente e feliz, o ministro Álvaro Santos Pereira, sossega a inquietação da pátria: "Certamente, a crise vai deixar de o ser em 2012." Erro grosseiro. Disparate político. Comentaram as boas almas. Menos de quatro horas depois, o ministro desmentiu-se a si próprio, mesmo quando as televisões reproduziram o paradoxo.
Talvez seja um episódio pitoresco. Porém, membros do Executivo, inclusive o primeiro-ministro, são useiros e vezeiros em tornar verdades num funesto derivado. A religião da mentira faz o seu caminho, quase sem contrariedade. E o País, quero dizer: a arraia-meúda do Fernão Lopes, continua a ser um elemento de espoliação, que não tem nada a ver com os apregoados "interesses." Aliás, eles nem ambicionam conhecer a exacta propriedade da frase. Têm sede de justiça e apenas exigem, a quem manda, decência, honra e um pouco de humanidade.


Baptista-Bastos (Escritor)----Diário de Notícias

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Política e Religião

Pirâmide de um só olho que tudo vê!


«O Papa, quando explicitamente define uma doutrina, possui a infalibilidade com que o divino Redentor quis dotar a sua Igreja ao definir qualquer matéria respeitante à fé e aos costumes» (Vaticano I, Constituição “Pastor Aeternus”).

«Nós aparecemos ao operário como libertadores do seu jugo, quando lhe propusermos entrar nas fileiras do exército de socialistas, anarquistas e comunistas, que sempre sustentámos sob o pretexto da solidariedade» (Os Protocolos dos Sábios de Sião, Capítulo XV).

«A lei que equilibra o processo de acumulação capitalista amarra o trabalhador ao capital. É esta lei que estabelece uma correlação fatal entre a acumulação do capital e o exército industrial de reserva, de tal modo que num só pólo a acumulação da riqueza é igual à acumulação da pobreza, do sofrimento, da ignorância, do embrutecimento, da degradação moral e da escravidão. São factores que estão na base da classe que suporta o próprio capital» (O Capital, Tomo I).

A Europa capitalista saltita à beira do abismo. O espectáculo anárquico a que se assiste actualmente é disso prova. Os políticos da chamada globalização são incapazes de encontrar saídas para os problemas catastróficos que eles próprios causaram. Teme-se a súbita ruptura do sistema financeiro e, nos quadros presentes, a economia não recupera. Falta, segundo os capitalistas, uma chefia esclarecida e com reforçados poderes de decisão. O Vaticano decidiu, portanto, avançar para a aplicação imediata de um plano já de há muito preparado, desde a era de João Paulo II, de Bush e de António Guterres. Em 1983, afirmou Dan Quayle, vice-presidente dos EUA: «Sob a corajosa liderança de João Paulo II, o Estado do Vaticano tem assumido o lugar que lhe compete no mundo como uma voz internacional. É altura dos EUA mostrarem o seu respeito pelo Vaticano, reconhecendo-o diplomaticamente como uma grande potência mundial». Palavras que revelaram a esperança que os mercados depositam na Igreja. O «olho» que tudo vê figura, aliás, no triângulo maçónico que é emblema do Tesouro americano. E surge igualmente nos símbolos dos poderosos illuminati da igreja.
Desde então tem-se reforçado extraordinariamente a aliança Vaticano/EUA. Ainda que à custa de uma certa ambiguidade em relação ao capitalismo apadrinhado na Europa. Uma simples imagem desta identidade da Santa Sé com as políticas neoliberais norte-americanas resulta de um facto simples embora recente mas «esquecido» pela comunicação social: em plena crise financeira, quando as estruturas bancárias norte-americanas abanavam, Bento XVI não hesitou em expor-se publicamente ao ordenar a urgente transferência para instituições americanas de biliões de dólares, o que permitiu à banca estadunidense retomar um certo reequilíbrio provisório. Para lá da solidariedade que o caso revela, esta operação também chamou a atenção para a solidez e capacidade financeira do Vaticano.

O plano eclesiástico de reforma financeira mundial

Mas que dizem os Protocolos que não se esteja a concretizar, agora?
Por exemplo, as estratégias da Nova Ordem Mundial, tal como foram inicialmente proclamadas, passam pelo fim do conceito de nação e de família; pela fusão das religiões numa só e pela instalação de um único governo mundial planetário e global, isento de qualquer controlo democrático e dotado com um só exército e uma só política. Os seus órgãos executivos deverão ocupar três esferas de poder: a económica e financeira; a militar e policial; e a esfera do poder científico.
A área política, uma vez extinto o Estado, será desempenhada pelos clubes de reflexão, que concentrarão em si as forças actualmente representadas nas reuniões de líderes (tais como o G5, o G8, o Clube de Bilderberg, a Trilateral, os Illuminati, etc.).
É nesta fase capitalista de aparente derrocada que a Igreja pretende assumir os comandos e fazer avançar as fortunas. É um aparente contrasenso. Mas se o conseguir, o capitalismo comandará a vida dos homens no próximo milénio. Se a intenção morrer pelo caminho, como parece provável, será ao homem que cumprirá escolher o seu destino – livre, fraterno e socialista.
Quando estivermos na posse do texto do Vaticano, falaremos então dessa «Proposta da Igreja de reforma do sistema financeiro mundial».

Jeorge Messias (Jornal Avante)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Solidários com as crianças da Etiópia e da Somália

Devemos ser solidários.

Somos um povo extra ordinário. A noite de fados realizada no Seminário do Verbo Divino mostra-o bem. O povo do Tortosendo esteve presente para tão nobre acção.
Mas ao ler esta notícia veio-me à memória, uma declaração de um membro da Junta de Freguesia do Tortosendo. Disse ele: "que a Junta de Freguesia estava a custear refeições nas escolas porque, principalmente à Segunda-Feira, as crianças iam com fome"!
Não nos ficaria nada mal, que olhando para tão longe, o que só nos fica bem, pudessemos olhar ,também, para mais perto.
Eu creio que as crianças, sejam de onde forem, não é de esmolas que precisam mas de justiça.
Mas enquanto esta não chega sejamos solidários

Quelha Funda

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Política e Religião

Sionismo, Secretismo, Maçonaria e Vaticano

«Globalização não é um conceito sério. Nós, americanos, inventámo-lo para dissimular a nossa política de invasão económica de outros países ...»(John Kenett Galbraith, professor norte-americano de Economia, «História da Economia»).
«O imperialismo é o capitalismo na fase de desenvolvimento caracterizada pelo domínio dos monopólios e do capital financeiro, quando adquiriu vincada importância a exportação de capitais e se inicia então a divisão da posse do mundo por parte dos trusts internacionais, bem como se conclui a partilha de toda a Terra entre os países capitalistas mais importantes» (V.I. Lenine, «O Imperialismo, fase superior do Capitalismo»).
«A respeito de Religião, constatamos na sociedade uma indiferença crescente … Porém, um dos fundamentos da convivência bem sucedida é a religião. Assim como a religião precisa de liberdade, também a liberdade tem sede de religião!» (Bento XVI, visita pastoral, 2011).
Passam os dias, voam as horas e o panorama das nações está cada vez mais escuro. O grande capital manteve em cena, anos a fio, os quadros da comédia «vida fácil e sucesso pessoal» que o crédito bancário estimulava e o «confortável» abandono dos campos, das pescas e das oficinas ou a imediata compra e venda do produto tornavam possível.
Tudo era utopia. Aos empresários chamavam empreendedores, aos trabalhadores, parasitas! Os políticos «televisíveis» eram apontados como cidadãos modelo que se colocavam ao serviço da comunidade, sem mais interesses que não fossem os da solidariedade e da entrega. Os milionários convertiam-se em filantropos ou em campeões das «lutas contra a pobreza». Diziam os patrões que progredia a «concórdia» entre as classes sociais quando, na verdade, se agravavam surdamente os índices do desemprego real, do custo de vida e se alargava o fosso entre pobres e ricos.
Aquilo que os governos, os capitalistas e a Igreja católica diziam a respeito do País e do mundo, era mentira radical. Cultivavam o mito. Mas todos os que falavam ou escreviam sabiam que a riqueza era roubada ao povo, passava pelos monopólios e ia concentrar-se nos bancos onde crescia em flecha e se transformava em arma cada vez mais poderosa ao serviço da «nova ordem» do grande capital.
Assim chegámos ao ponto em que as coisas estão. O dinheiro abunda mas é absorvido pelos poucos monopólios de primeira linha os quais, fatalmente, continuam a tentar engolir-se uns aos. O resto é folclore e paisagem. A posse do dinheiro e do poder ocupa o lugar central das atenções dos mais ricos. Que importa que morram milhões de míseras criaturas se o seu sacrifício for exigido pela troika ou pelo saneamento da dívida pública do Estado?
O tempo que vivemos e o mais que está para vir prenunciam dias bem duros e difíceis. Dias de luta e de sacrifício, combates de vida ou de morte contra os corruptos, os profetas das «piedosas» promessas, os usurários, os renegados do 25 de Abril e os fascistas.
Sem ilusões, vamos à luta!
Abril não é um sonho. É um projecto de futuro, ainda por realizar.

O lugar do Vaticano
Em tudo isto, o papel desempenhado pela Igreja é vergonhoso. Bem pode a Cúria continuar a chamar-lhe comunidade do mistério e da fé que poucos nisso ainda acreditarão. O que torna poderosa a Igreja é o dinheiro que tem e as influências que move. Por isso se cala perante a injustiça e pratica, ela própria, o crime. O segredo é a alma do negócio. Mas já ninguém pode ocultar que «o Vaticano é dono do Hemisfério Ocidental». É dono de meio mundo!.. E quer ir à conquista do que ainda não tem.
A sede desse poder situa-se num eixo transatlântico que liga Roma a Washington mas também se ramifica por toda a Europa, por África e pela América Latina. Há quem afirme que o Estado norte-americano é já uma colónia da Santa Sé. Esta, domina 51% do capital dos principais bancos; tem redes instaladas horizontalmente em todos os grandes partidos políticos, na comunicação social e nas instituições assistenciais as quais, nos EUA, desempenham o papel que em Portugal é cobiçado pelas ONG e IPSS. Tem alianças preferenciais com a Maçonaria. Possui uma pesada carteira de interesses no petróleo, nos aços, na indústria automóvel, nos armamentos, na energia, nas linhas aéreas, nas minas, na construção civil, etc.
Todas as grandes decisões políticas americanas se sujeitam, já, aos pareceres prévios do Vaticano.


Jorge Messias (Jornal Avante)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A memória dos amigos

No Jornal "Diário de Notícias",de hoje 2 de Novembro, vem um trabalho de Baptista Bastos que não pode deixar indiferente quem ame a cultura e a liberdade.Tomei então a liberdade de o publicar no meu blog esperando,assim, leva-lo ao conhecimento de alguns,que não lendo o "DN" passem os olhos pelo meu blog



A memória dos amigos


O Governo deixou passar em escuro os centenários do nascimento de Alves Redol e de Manuel da Fonseca. São dois dos maiores escritores da literatura portuguesa. Mas eram neo-realistas e, por isso, desdenhados pela miuçalha que voeja nos canais da cultura. E o Governo actual não é propriamente um arfante frequentador de livros. Basta ouvi-los. Aquela constante troca da expressão "competitividade" por "competividade" causa apreensão. Enfim. A verdade é que qualquer dos dois autores nos legou uma obra incomum e algumas obras-primas. Gaibéus, inaugura o movimento, cujas características se aproximavam do "realismo socialista", ou Barranco de Cegos ou, ainda, entre outros mais, o extraordinário A Barca dos Sete Lemes, de Redol, são textos definitivos, se a expressão não vai incomodar os espíritos de libélula. E O Fogo e as Cinzas, Cerromaior e Seara de Vento, de Manuel da Fonseca, instituem uma nova maneira de se enten der a literatura, para se compreender o mundo. Fonseca intro duz a short storie e escreve com, apenas setecentas palavras, reduzindo a zero as gorduras da retórica.
Não me interessa, agora, escarmentar um actual membro do Executivo que, em tempos, qualificou de medíocre os livros de Redol. As acções e as definições ficam para quem as pratica. Mas a memória regista e conserva a pelintrice. Manuel da Fonseca e Alves Redol eram amigos, companheiros e camaradas. Redol morreu novo, com 58 anos, e o seu funeral, em Vila Franca de Xira, por um dia embatente de frio, mobilizou muitos milhares de pessoas. A cidade estava cercada de pides, e a emoção popular só teve paralelo com o enterro de António Sérgio. Do património da Esquerda fazem parte integrante esses protagonistas anónimos que, quando é preciso, enchem as ruas, as praças e as cidades, e obrigam a Direita, que dispõe da polícia e da violência, a posar de fera sem unhas.
Redol era o mais bondoso e generoso de todos os homens que conheci. Até os desaforos de que era alvo, as injúrias com que o feriam, pareciam não o afectar grandemente. Uma alma de mármore num corpo de porcelana. E um escritor incansável, com larguíssimo volume de leitores, consciente da responsabilidade do ofício, e do efeito que as palavras podem ter. Manuel da Fonseca, um amigo devotado e o mais felino dos sarcastas. Certa ocasião, uma senhora que muda a cor do cabelo consoante os dias pares ou ímpares, escreveu, numa gazeta semanal, que o Manuel da Fonseca era muito simpático, mas o facto de ser neo-realista a espavoria. Rimo-nos da alarvidade presunçosa. E o Manuel da Fonseca, que não era para graças, resumiu numa frase mortal, o seu desprezo monográfico: "Coitada, é tão feia!"
O Governo cumpre o seu papel de os esquecer. O nosso, é o de sacudir estas inércias, e relembrá-los, com emoção e orgulho.

Baptista Bastos

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Carta dos Avós aos Netos

No ultimo encontro nacional das Associações de Reformados saiu este diamante, em forma de carta, que eu não resisto em transcreve-la. Ela deve chegar ao maior numero de pessoas e em especial aos jovens. É esta a amaneira de eu poder colaborar. Estou certo que os meus amigos estão de acordo comigo.

Sexta-feira, 28 de Outubro de 2011

Queridos netos.O motivo desta carta, escrita pelos avós que somos e dirigida aos netos, tem a ver com o nosso passado, o nosso presente e o vosso futuro. Pertencemos à geração que, obrigada, fez aguerra colonial, que lutou e alcançou a Paz.A geração perseguida, reprimida e presa pela polícia política de Salazar e Caetano. Somos a geração que fez a revolução do 25 de Abril.A nossa experiência de vida e de luta, ontem jovens e hoje avós, diz-nos que o momento que o País vive é muito grave para as famílias portuguesas e, em especial para o vosso futuro. Sentimos Por isso, temos a responsabilidade de lançar um alerta aos nossos filhos e netos para o caminhode destruição do país: dos direitos políticos, laborais e sociais dos trabalhadores das novas gerações e do povo português.Não pensem que é exagero dizer que, este é o caminho da destruição do regime democrático, promovido pelo governo do PSD/CDS-PP a mando da Troika do qual o PS foi o primeiro subscritor.Quem, como nós, viveu num tempo de opressão e exploração e, sem condições mínimas de vida, em que o sonho de sermos livres, de dar largas à revolta da falta de liberdades constituiu uma postura combativa, sabe bem que é possível transformar o sonho em realidade.Com orgulho de sermos trabalhadores e lutando para satisfazer justos anseios, em oposição às classes parasitárias e exploradoras, fez de nós intervenientes activos na luta pela mudança das nossas vidas.Muitos de nós, trabalhadores que fomos das fábricas, dos campos, das empresas dos serviços, das forças armadas, pela luta organizada no plano político, social e cultural estivemos no centro da luta que levou à queda do regime fascista e à construção de um país livre e democrático.É preciso lembrar que, nesse tempo, o analfabetismo imperava porque o ensino era privilégio de poucos, amaioria dos partos eram feitos em casa, existia uma elevada taxa de mortalidadeinfantil e materna, a esperança de vida era de 60,7 anos, os serviços de saúde eram pagos por quem podia e os que não podiam pagar tinham de recorrer ao atestado de pobreza passados nas Juntas de Freguesia e as mulheres não podiam trabalhar ou deslocar-se ao estrangeiro sem autorização dos maridos.Queridos netos, depois desses tempos de trevas chegaram os dias luminosos do 25 de Abril, fruto de muitas,muitas lutas: Lutas contra aquilo que parecia, um “muro intransponível”, ou como nos diziam “tem que ser assim, sempre foi assim…” Era uma maneira de dizer e de convencer, tal como hoje - “não há alternativas”.As liberdades e os direitos políticos conquistados: de expressão, de manifestação, de associação, aliberdade sindical e o direito à negociação colectiva, a garantia do direito de todos ao Serviço Nacional de Saúde, o Sistema Público de Segurança Social e à Escola pública de qualidade; a reforma agrária nos campos do sul do País, a dinamização do associativismo dos agricultores a norte do País; o associativismo dos reformados, dos jovens, entre outros, resultou de muitaslutas do nosso povo e dos jovens de então.Hoje, na situação de reformados das nossas profissões, não nos reformámos da luta em defesa dos nossos direitos, mas igualmente da luta pelos direitos dos nossos filhos e netos.Estão a ser atacados o nosso direito de envelhecer com direitos, com autonomia económica e social. Lutamos em sua defesa por nós e pelas futuras gerações. Estamos atentos e interventivos na exigência de um Portugal com direitos e liberdades políticas e sociais para os trabalhadores nossos filhos e, para vós, nossos netos – as novas gerações produtivas, criadores de riqueza e, por isso, merecedoras de um nível de vida compatível com essa condição.Está a ser posto em causa o vosso direito ao trabalho com direitos. A legislação laboral está a ser alvo de ataques violadores da Constituição da República, através de tentativas de liberalizar os despedimentos sem justa causa, de prolongar os horários de trabalho, da redução para metade do valor do trabalho em dias de descanso e das horas extraordinárias, da liquidação da contratação colectiva, da redução da duração e do montante do subsídio de desemprego para um limite máximo de dezoito meses.É importante, que conheçam os princípios, valores e direitos da Constituição da República. O seu conteúdo ajuda a perceber as obrigações do Estado para com os cidadãos e o país. E, também,para perceber a diferença entre os direitos e dádivas dos governos, como a oferta de medicamentos em fim de prazo e os restos de comida para os pobres. Nós sabemos bem a diferença entre direitos e políticas assistencialistas e caritativas. E, sabemos o significado profundo da palavra dignidade – por isso não aceitamos e recusamos a transformação dos direitos em actos de caridade. Está muito actual a conhecida frase de Bento Jesus Caraça – um homem culto é aquele que “Tem consciência da sua personalidade e da dignidade que é inerente à existência humana.”Como exemplo de direitos constitucionais, o artigo 63º da Constituição da República: “Todos têm direito à segurança social. Incumbe ao Estado organizar, coordenar e subsidiar um sistema de segurança social unificado e descentralizado, com a participação das associações sindicais, de outras organizações representativas dos trabalhadores e de associações representativas dos demais trabalhadores.” Queridos netos.Muitos de nós não temos heranças materiais para vos deixar. Temos um legado de saber e experiência, que nalguns casos levou a perdas de postos de trabalho, ou mesmo à prisão. Hoje, no século XXI, tal como no tempo da nossa juventude, para não se perderem direitos históricos e civilizacionais, a luta é uma exigência e uma necessidade.A juventude é a idade dos sonhos. É possível sonhar e alcançar sonhos que pareceriam inatingíveis, sonhos arrojados. Foi o que conseguimos na nossa juventude com a Revolução do 25 de Abril - o maior legado que deixamos aos nossos filhos e netos – a luta e os seus resultados! Encontro Nacional das Associações de Reformados, 22 de Outubro de 2011.

Quelha Funda 28-10 2011